sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Jubiabá em quadrinhos








 Tidos erroneamente por muitos leitores como uma “arte menor” ou “subliteratura”, as histórias em quadrinhos são uma forma preciosa de arte capaz de empregar arranjos sequenciais e conjugadas de imagens e texto. Ciente do grande potencial criativo e comunicativo das HQs, o cartunista paulista Spacca adaptou para os quadrinhos o romance Jubiabá, de Jorge Amado, lançado em 2009 pela Companhia das Letras. 

Terceiro romance do autor baiano, trata-se de um dos melhores livros de Jorge Amado, narrativa vibrante e irrequieta que acompanha as aventuras (ou desventuras) do negro Antônio Balduíno (ou Baldo) que em meio a bebedeiras, lutas e amores, empreende uma jornada em direção ao entendimento de um mundo de poucas luzes, cujas  ameaças e constantes reviravoltas o levam a adotar um código próprio de honra, onde a brutalidade surge não como um artifício,  mas como uma defesa. É dando “o seu jeito” e sem esquecer das lições do pai de santo que dá nome ao romance (que sempre alertava que quando o homem “vaza o olho da piedade ”, só lhe resta a crueldade) que Baldo vivencia uma experiência de liberdade quase plena, dando vazão a impulsos e desejos, exigindo de si mesmo uma revolta autêntica diante dos percalços impostos pela vida.

Com engenho e dinamismo, Spacca captou as nuances do romance de Jorge Amado, transformando-o em páginas ricamente ilustradas, com o melhor da articulação entre a palavra e a imagem que os quadrinhos podem oferecer. Por não ter exatamente a mesma sensibilidade do escritor, Spacca promove novas perspectivas, numa alteração do espaço narrativo que evidencia um diálogo entre as artes. A HQ, a exemplo de uma adaptação cinematográfica, pode expandir, criticar e reatualizar o texto original, dotando-o de uma atmosfera que seja equivalente – enfim, uma tradução. Afinal, adaptar é isso, gerar uma obra independente capaz de atualizar e/ou ampliar os significados do texto adaptado.

Logo, o gibi Jubiabá evoca os cenários e os personagens do universo amadiano de uma forma muito peculiar, realçados pela expressividade do desenho, além de incorporar um maior valor literário ao conteúdo da HQ. Ainda que não seguisse essa intenção, Spacca consegue reproduzir o verbo deliciosamente pitoresco da narrativa de Jorge Amado, situações naturalmente condensadas, pois, como mencionamos, estamos falando de duas formas artísticas distintas, sendo que a literatura, em especial o romance, pode expandir situações, abranger diversos focos e procedimentos formais, tornando-se por excelência um gênero multiforme. Nos quadrinhos, há cortes, exatidão, emprego de um ritmo mais veloz. Torna-se tão somente outra modalidade narrativa, e nesse sentido a HQ de Spacca é exemplar.

Numa cultura marcada pela presença ostensiva da imagem, a exemplo das telenovelas, os quadrinhos podem ser uma excelente alternativa para estimular o jovem leitor, haja vista o potencial das HQs de condensar tanto as possibilidades da linguagem verbal quanto visual. Ademais, lembrar esse mesmo leitor que a literatura continua sendo uma fonte rica e inesgotável de ideias, fator que Spacca faz questão de frisar na adaptação para os quadrinhos de Jubiabá 









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