segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Uma resenha de Carlos Barbosa


AS PEÇAS DO RELÓGIO DE THIAGO LINS

As peças do relógio reúne poemas de várias fases da produção de Thiago Lins. Professor e escritor, graduado em Letras e com mestrado em Literatura e Diversidade Cultural pela UEFS, Lins recolheu gritos de liberdade em versos, construídos na dor de viver nestes tempos em que pessoas e instituições se diluem em peças irreconhecíveis, para compor seu primeiro livro solo. Um livro que oferece poemas poderosos, como “Solitude”, em que o poeta ruge: “Solitário vivo / Solitário termino // Quem me fez imóvel / sob a terra esfacelada?”.  

O lançamento de As peças do relógio em Feira de Santana, cidade onde o autor reside e leciona, acontecerá na próxima quinta-feira, dia 27 de setembro, a partir das 19h, na Livraria Nobel, localizada na Av. Getúlio Vargas, centro. O livro foi publicado pelo selo Três por Quatro, da editora Multifoco, do Rio de Janeiro. Esta será uma excelente oportunidade de a comunidade feirense, interessada em literatura, conhecer de perto o que de novo a poesia baiana tem a ofertar. Thiago Lins publicou anteriormente, em parceria com Paulo André e Georgio Rios, o livro de poemas Só Sobreviventes (Tulle, 2008) e participou da coletânea de minicontos Tardes com anões (Vento Leste, 2011). 

A figura paterna, que na poesia de Thiago Lins tem forte presença, permite ao autor uma esgrima lírica que alcança picos emocionais impressionantes. “Meu pai desferiu três tapas: / O primeiro, em casa. / O segundo, na escola. / O terceiro, pro resto da vida.” A secura dos versos revela a crueza dos embates sociais, o vazio afetivo que tem cercado a juventude atual desde o seio familiar. A exigência mecânica da autoridade preenche nossos suados dias, em todas as áreas do viver. E quem não possui a sede de poder e, ao contrário, é possuído pela sensibilidade artística, ilumina o mundo com versos assim: “Na casa do meu pai / tudo é exigido // Obediência súdita, / quase cega // Me ensinou a mastigar / e a cuspir [...] Me ensinou a calar / sem discurso [...] A casa do meu pai / é o único país que conheço.”

Em sua apresentação do livro, a professora doutora em literatura (UFRB) e poeta, Ângela Vilma, diz que “Ler As peças do relógio é ficar sem o relógio e ganhar a eterna inquietação da perda”, para adiante lembrar que “relógios desmontados” mostram “um tempo maior: esse que habita a solidão ‘imóvel’ na sua carga simbólica, humana, estética, dolorosa.” Sandro Ornellas, também professor doutor em literatura (UFBA) e poeta, afirma na orelha do livro que “a poesia de Thiago é principalmente isso: trágica. Mas sua tragicidade não se mostra tão meramente negativa, e sim como um sopro de ar fresco em um tempo de excessivas mistificações”. Ou seja, As peças do relógio, de Thiago Lins, se apresenta como leitura obrigatória, pelo que traz de inquietação e novidade.


Carlos Barbosa é jornalista e escritor,
autor dos romances “A dama do Velho Chico”
 e “Beira de rio, correnteza”

  
SSA, 23.09.12

Nenhum comentário:

Postar um comentário